COVID-19 e a economia mundial: entrevistando Thomas Trebat

On March 24th we had a webinar with the director of Columbia Global Centers Rio de Janeiro, Thomas Trebat, and many participants raised important questions. In this interview, Thomas Trebat answers some of these questions.

By
Letícia Katz
March 27, 2020

 

1.Para enfrentar uma provável recessão mundial será necessária a adoção de um nono Plano Marshall, dessa vez com maior amplitude, visto que a derrocada econômica terá um caráter mundial?

Thomas Trebat - Não acredito que um novo Plano Marshall seja realista no mundo de hoje. Nacionalismo e populismo estão fazendo com que os países fiquem cada vez mais voltados para dentro de si e, porém, muito pouco dispostos a prestar ajuda a terceiros países. Os Estados Unidos, sobretudo, deixaram de atuar como líder de grandes projetos globais e a Europa também está com um olhar fixo para dentro da região. Além do mais, a crise do COVID-19 é encarada no mundo todo como um jogo de soma zero. Tudo que fosse dado para ajudar estrangeiros significa menos para os nossos cidadãos. 

2.Sabemos que no Brasil temos uma grande parcela de pessoas em situação de trabalho informal. Quais seriam as suas ideias para apoio desta parcela da população?

Thomas Trebat - Um desafio gigantesco, realmente. O fato das pessoas estarem no setor informal não os torna invisíveis. Elas ou suas famílias provavelmente devem estar cadastradas em um ou outro programa de assistência social, tipo Bolsa Família, INSS, ou BPC.  Eu começaria na medida do possível dando dinheiro para essas pessoas já identificadas, em grande parte trabalhadores do setor informal.

3.Professor, dado que ainda não temos uma solução definitiva no curto prazo, você acredita que os países adotarão períodos de isolamento seguidos de uma liberação para a atividade econômica? Isso seria um meio termo ao isolamento completo e indeterminado?

Thomas Trebat - Sim, concordo que a volta à atividade normal ou quase-normal vai ser gradual e que o período de isolamento não é sustentável a longo prazo. Vemos até em Wuhan uma volta gradual dos trabalhadores e recomeço do transporte público. Ou seja, a ordem correta seria isolamento e testes e, na sequencia, liberação gradual. 

4.A forma de governar do Presidente Bolsonaro tem levado a falhas de políticas públicas? Há ignorância por trás dessa postura ou é uma estratégia? Quais serão os prejuízos econômicos dessa postura?

Thomas Trebat - Posso raciocinar pela postura parecida de Trump nos Estados Unidos. Claro, há uma evidente postura politica na negação da ciência e os conselhos óbvios das autoridades sanitárias. Essa postura vem da ansiedade da politica de não deixar que a pandemia derrube mercados e abale suas chances de reeleição, mas é uma postura boba. A troca virá na perda de muitas vidas. 

5.Prezado Thomas, a maioria dos países está enfrentado a Pandemia com rígidas medidas restritivas ao deslocamento e agrupamento de pessoas em geral, sejam habitantes ou visitantes. Uma consequência do lockdown indefinido será o que recentemente escreveu o sociólogo italiano Domenico de Masi sobre isso, mais ou menos com as seguintes palavras: o país inteiro pára, as fábricas quase todas ficam fechadas por alguns meses, o produto bruto ficará próximo de zero e após a tempestade do coronavirus passar um povo inteiro terá de enfrentar uma situação inédita, que é a de consumir sem produzir.

Thomas Trebat - Outras pessoas sugerem uma abordagem mais cirúrgica (vide recente artigo do Thomas Friedman no Brazil Journal), que dá enfase aos cuidados médicos da população idosa e mais carente, os que correm mais risco de vida, porém dá liberdade para os negócios funcionarem e as pessoas trabalharem.

6.Qual a sua opinião sobre essa questão ? Mais ou menos fechamento das fronteiras, com restrição do ir e vir das pessoas e drástica diminuição do trabalho produtivo?

Thomas Trebat - A minha posição é de que deve-se pensar na economia ao mesmo tempo em que a prioridade fundamental é de conter o espalhamento do vírus. As medidas econômicas ocorrem em cadeia. Primeiro, garantimos ao máximo possível a solvência das a infraestrutura financeira das empresas, e a renda das pessoas que ficam sem recursos ou poupanças. Lembre que a pandemia tem prazo para acabar. As medidas econômicas de curto prazo visam preservar as pessoas e as empresas para logo após o pior passar facilitar a reativação econômica. 

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